Dólar recua após nova alta nos juros pelo Copom; conflito no Oriente Médio segue em foco
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista recuava ante o real nesta sexta-feira, com os investidores retornando de um feriado e reagindo pela primeira vez à decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 15% ao ano, o que fomentava os ganhos da divisa brasileira, enquanto as tensões no Oriente Médio continuam no radar.
Às 9h41, o dólar à vista caía 0,25%, a R$5,4873 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,10%, a R$5,500 na venda.
Na quarta-feira pré-feriado de Corpus Christi no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, a 15% ao ano, sinalizando uma interrupção no ciclo de alta e que a Selic deve permanecer inalterada por "período bastante prolongado".
Na decisão de elevar os juros pela sétima vez consecutiva, tomada por unanimidade, o BC disse que a interrupção do ciclo será feita se confirmado o cenário esperado, ponderando que não hesitará em elevar a Selic novamente se necessário.
A decisão ocorreu após semanas de divisão entre analistas e investidores sobre qual rumo o Copom tomaria, com a maioria dos economistas em pesquisa da Reuters projetando manutenção dos juros, enquanto o mercado passou a precificar alta de 0,25 ponto dias antes da reunião das autoridades.
Uma Selic ainda mais alta, conforme os bancos centrais de economias avançadas cortam ou mantêm suas taxas, oferece um diferencial de juros bastante vantajoso para o Brasil, o que, em consequência, torna o real mais atrativo para moedas estrangeiras.
Alguns analistas ainda apontaram que a linguagem do comunicado do BC, mostrando comprometimento com a convergência de inflação para a meta e indicando que não hesitará em elevar os juros novamente, foi "hawkish" (agressiva no combate à alta dos preços), o que também é positivo para a moeda brasileira.
"A decisão do Copom ... deve valorizar o real, uma vez que a taxa dos Estados Unidos foi mantida constante e a taxa brasileira foi elevada, aumentando o diferencial de juros e consequentemente o estímulo ao real ante o dólar", disse Gesner Oliveira, sócio da GO Associados.
"É preciso enfatizar também que uma boa parcela do mercado não acreditava nesse aumento, portanto veio como uma surpresa para boa parte do mercado e consequentemente pode ter reflexos no mercado cambial", completou.
No cenário externo, os investidores exibiam maior alívio quanto ao conflito entre Israel e Irã depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou na véspera que o país não se envolverá imediatamente na guerra, com uma decisão a ser tomada dentro de duas semanas.
A notícia ajudava a derrubar os preços do petróleo Brent em mais de 3% nesta sexta, mesmo que os dois rivais do Oriente Médio continuassem trocando ataques aéreos, sem que um acordo sobre o programa nuclear iraniano estivesse à vista.
No entanto, os mercados continuam cautelosos quanto às incertezas comerciais, à medida que se aproxima o prazo do início de julho para o fim da suspensão das tarifas de Trump, com acordos comerciais ainda sendo negociados entre Washington e seus principais parceiros, como Japão e União Europeia
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,01%, a 98,677.
(Edição de Camila Moreira)