Como o mundo reagiu ao ataque dos EUA ao Irã
Como o mundo reagiu ao ataque dos EUA ao Irã - Netanyahu agradece a Trump; ONU teme que situação saia do controle; Irã responde com ameaças e lançamentos de mísseis. Veja como foi a reação internacional à entrada dos EUA na campanha israelense contra o Irã.Os Estados Unidos entraram neste fim de semana diretamente no conflito entre Israel e o Irã, marcando uma nova escalada na região nove dias após o início da campanha militar israelense. As reações internacionais aos ataques americanos a três complexos militares iranianos variaram entre apoio, preocupação, cautela e críticas.
Israel agradece e celebra ação dos EUA
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, que pressionava Trump a se envolver diretamente no conflito, agradeceu e parabenizou o presidente americano neste domingo (22/06). "Sua decisão ousada de atacar as instalações nucleares do Irã com a força impressionante e virtuosa dos Estados Unidos mudará a história", disse Netanyahu em uma mensagem dirigida a Trump.
"A história lembrará que o presidente Trump agiu para negar ao regime mais perigoso do mundo as armas mais perigosas do mundo", completou Netanyahu, que há mais de uma década defendia publicamente um ataque direto contra as instalações nucleares do Irã.
Irã minimiza efeitos dos ataques e reage com ameaças
A mídia estatal iraniana confirmou que três complexos iranianos foram atacados, mas tentou minimizar os bombardeios afirmando que não teriam sido registrados danos significativos
Já o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, alertou em um post na rede X que os ataques dos EUA "terão consequências duradouras" e que Teerã "se reserva todas as opções" para retaliar.
"Os Estados Unidos, membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, cometeram uma grave violação da Carta das Nações Unidas, da lei internacional e do (Tratado de Não Proliferação Nuclear) ao atacar as instalações nucleares pacíficas do Irã. Os eventos desta manhã são ultrajantes e terão consequências duradouras. Todo e qualquer membro da ONU deve estar alarmado com esse comportamento extremamente perigoso, ilegal e criminoso. Em conformidade com a Carta da ONU e suas disposições que permitem uma resposta legítima em autodefesa, o Irã se reserva todas as opções para defender sua soberania, seus interesses e seu povo."
Horas após o anúncio do ataque, mísseis iranianos atingiram áreas no norte e no centro de Israel, deixando pelo menos 16 feridos, de acordo com a imprensa israelense.
ONU teme que conflito saia do controle
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que a entrada dos EUA representa uma "escalada perigosa em uma região que já está no limite — e uma ameaça direta à paz e à segurança internacional".
"Há um risco crescente de que este conflito saia rapidamente do controle — com consequências catastróficas para os civis, a região e o mundo", declarou Guterres, em nota publicada pela ONU.
União Europeia reage com cautela
A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, conclamou todos os lados do conflito entre EUA, Israel e Irã a retomarem negociações, ao mesmo tempo em que insistiu que a segurança internacional estaria ameaçada se o Irã desenvolvesse uma arma nuclear.
"Não se deve permitir que o Irã desenvolva uma arma nuclear, pois isso seria uma ameaça à segurança internacional. Peço a todos os lados que recuem, voltem à mesa de negociações e evitem uma nova escalada", escreveu Kallas na rede X.
Chefe da Otan diz que ação dos EUA foi legítima
O chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, afirmou nesta segunda-feira (23/06) que os bombardeios americanos não violaram o direito internacional.
"Vamos focar no que importa aqui. Meu maior medo seria que o Irã tivesse e fosse capaz de usar uma arma nuclear para estabelecer um domínio sufocante sobre Israel, sobre toda a região e outras partes do mundo", disse a repórteres.
Reino Unido declara apoio à ação dos EUA
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, dosou apoio à operação americana contra o programa nuclear do Irã com apelos para uma solução diplomática. O governo britânico negou que tenha participado da ação dos EUA, mas disse que foi informado previamente dos preparativos do ataque pela Casa Branca.
"O programa nuclear do Irã é uma grave ameaça à segurança internacional. Não se pode permitir que o Irã desenvolva uma arma nuclear e os EUA tomaram medidas para mitigar essa ameaça. A situação no Oriente Médio continua volátil e a estabilidade na região é uma prioridade. Apelamos ao Irã para que retorne à mesa de negociações e chegue a uma solução diplomática para pôr fim a essa crise", declarou o premiê Starmer.
Alemanha avalia que ataque dos EUA afetou programa iraniano
Até o momento, o chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, não divulgou uma declaração oficial sobre a ação dos EUA. Segundo a imprensa alemã, ao contrário do britânico Starmer, Merz não foi informado previamente sobre o ataque.
Inicialmente, o governo alemão se limitou a afirmar que avalia que "que grande parte do programa nuclear iraniano foi afetada pelos ataques aéreos" e que Merz pediu ao Irã que iniciasse imediatamente negociações com os EUA e Israel e que chegasse a uma solução diplomática para o conflito.
Ainda segundo o governo alemão, Merz, o presidente francês Emmanuel Macron e Keir Starmer discutiram o ataque dos EUA na manhã de domingo.
Pela tarde, o ministro alemão das Relações Exteriores, Johann Wadephul, defendeu a intervenção dos EUA na guerra entre Israel e o Irã em uma entrevista. O político conservador disse que era legítimo impedir que Teerã obtivesse uma arma nuclear e que os EUA obviamente se sentiram compelidos a tomar essa medida. "O próprio Irã ultrapassou as linhas vermelhas", disse.
França pede moderação
A França pediu neste domingo a todos os lados que exerçam moderação após os ataques aéreos dos EUA, pedindo uma solução negociada para a crise.
"A França está convencida de que uma resolução duradoura para essa questão exige uma solução negociada dentro da estrutura do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares", disse o ministro das Relações Exteriores Jean-Noel Barrot no domingo.
Rússia, China, Cuba e Venezuela condenam ação dos EUA
Adversários dos EUA, os regimes de Rússia, e Cuba e Venezuela criticaram a intervenção militar americana no Irã.
A Rússia disse no domingo que "condena veementemente" os bombardeios dos EUA e chamou os ataques de "irresponsáveis" e uma "violação grosseira do direito internacional".
"Já está claro que uma escalada perigosa começou, repleta de mais riscos para a segurança regional e global", disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia em comunicado.
A China também acusou os EUA de violar a lei internacional e pediu um cessar-fogo.
A Venezuela, por sua vez, condenou o que chamou de "agressão militar dos EUA contra o Irã" e exigiu a cessação imediata das hostilidades. "A República Bolivariana da Venezuela condena firme e categoricamente o bombardeio realizado pelos militares dos Estados Unidos, a pedido do Estado de Israel", disse o ministro venezuelano das Relações Exteriores, Yvan Gil.
"Condenamos veementemente o bombardeio dos EUA às instalações nucleares do Irã, que constitui uma perigosa escalada do conflito no Oriente Médio. A agressão viola seriamente a Carta da ONU e o direito internacional e mergulha a humanidade em uma crise com consequências irreversíveis", disse, por sua vez, o líder do regime cubano, Miguel Diaz-Canel.
Catar e Arábia Saudita demonstram preocupação
O governo do Catar, que está desempenhando o papel de mediador entre Israel e o Hamas na guerra em Gaza, alertou no domingo sobre "consequências catastróficas" após os ataques dos EUA.
"A atual escalada perigosa na região pode levar a consequências catastróficas tanto regional quanto internacionalmente", disse o Ministério das Relações Exteriores do Catar, conclamando "todas as partes a mostrar sabedoria e moderação e evitar qualquer escalada adicional".
A Arábia Saudita também declarou que está acompanhando "com grande preocupação os acontecimentos na República Islâmica do Irã".
Brasil condena ataque e pede solução diplomática
O governo brasileiro divulgou nota em que condena o ataque, classifica a ação de Israel e Estados Unidos de "violação da soberania do Irã e do direito internacional" e apela às partes para que exerçam a "máxima contenção", exortando-as a buscar uma saída diplomática.
"Qualquer ataque armado a instalações nucleares representa flagrante transgressão da Carta das Nações Unidas e de normas da Agência Internacional de Energia Atômica. Ações armadas contra instalações nucleares representam uma grave ameaça à vida e à saúde de populações civis, ao expô-las ao risco de contaminação radioativa e a desastres ambientais de larga escala", afirmou o Planalto.
Ao mesmo tempo, o governo também defendeu que a energia nuclear deve ser usada exclusivamente para "fins pacíficos" e rejeitou "qualquer forma de proliferação nuclear, especialmente em regiões marcadas por instabilidade geopolítica, como o Oriente Médio". Também condenou ataques recíprocos que feriram civis e atingiram, inclusive, um hospital em Israel.
Membros da oposição nos EUA criticam Trump
Nos EUA, alguns membros da oposição democrata criticaram a iniciativa do republicano Trump, destacando que os ataques foram realizados sem o consentimento do Congresso.
A deputada Alexandria Ocasio-Cortez afirmou enxergar a decisão de Trump como uma "grave violação" da Constituição e "motivo para impeachment”.
"Por impulso, ele arrisca lançar uma guerra que pode nos prender por gerações", escreveu a deputada no X.
O deputado Jim McGovern, por sua vez, chamou a situação de "insana". "Trump acabou de bombardear o Irã sem a aprovação do Congresso, arrastando-nos ilegalmente para uma guerra no Oriente Médio. Será que não aprendemos nossa lição?"
Papa pede fim da violência
O papa Leão 14 disse que a comunidade internacional deve trabalhar para evitar a abertura de um "abismo irreparável".
Durante sua oração semanal, o papa disse aos fiéis: "Cada membro da comunidade internacional tem uma responsabilidade moral: parar a tragédia da guerra antes que ela se torne um abismo irreparável".
"Nenhuma vitória armada pode compensar a dor das mães, o medo das crianças, o futuro roubado. Que a diplomacia silencie as armas", disse, mencionando ainda que a guerra paralela em Gaza não pode ser esquecida.
jps/ra (ots)