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Trump fala em "fazer o Irã grande de novo" e reacende tensão com Teerã

23/06/2025 05h20

Após um fim de semana marcado por bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã, a crise no Oriente Médio ganha novos contornos. O presidente Donald Trump voltou a falar em mudança de regime e usou o seu próprio slogan adaptado ? "Make Iran Great Again".

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

Até agora, os ataques lançados pelos Estados Unidos, com bombardeiros e submarinos, atingiram duramente três instalações nucleares do Irã. Segundo altos funcionários do governo americano, os danos foram sérios ? mas tem um grande ponto de interrogação no ar: ninguém sabe onde está o estoque de urânio enriquecido que o Irã já tinha acumulado. E esse urânio está em um nível quase pronto para fabricação de uma bomba.

Um dia depois dos ataques, o verdadeiro estado do programa nuclear iraniano continua incerto. O próprio governo dos EUA reconhece que ainda é cedo para dizer se Teerã ainda tem capacidade de construir uma arma nuclear.

Os bombardeios aumentaram os temores de uma escalada perigosa no Oriente Médio. Líderes do mundo todo fizeram apelos urgentes por diplomacia. Mas, no fim do dia, quem chamou atenção foi o presidente Trump ? que sugeriu, publicamente, uma possível mudança de regime no Irã. E ele fez isso no estilo Trump: postou no Truth Social que "se o atual regime iraniano não consegue 'fazer o Irã grande de novo', por que não mudar o regime? MIGA!!!" [sigla para Make Iran Great Again] ? fazendo referência ao seu próprio slogan.

Apesar disso, o secretário de Estado Marco Rubio afirmou que "não há operações militares planejadas neste momento". E disse também que ninguém vai saber tão cedo se o Irã conseguiu mover parte do material nuclear antes dos ataques.

O presidente americano tem uma reunião agendada para a tarde desta segunda-feira (23) com o Conselho de Segurança para discutir o andamento da situação no Oriente Médio.

Novos bombardeios na madrugada desta segunda-feira

A madrugada foi marcada por tensão dos dois lados. Em Israel, sirenes de alerta tocaram em várias regiões logo no começo da manhã. O Exército israelense confirmou que mísseis foram lançados a partir do Irã e que as forças de defesa aérea estavam tentando interceptar os projéteis.

Pouco tempo depois, as autoridades informaram que os israelenses já podiam sair dos abrigos. Até o momento, não há registro de impactos diretos nem de feridos.

Do outro lado, no Irã, a situação também foi agitada. A agência Fars, ligada à Guarda Revolucionária Iraniana, informou que unidades de defesa aérea entraram em ação diante de ataques israelenses na região de Karaj, a oeste de Teerã. Moradores relataram nas redes sociais dezenas de explosões.

Durante a noite, Israel teria bombardeado alvos militares estratégicos dentro do Irã, incluindo a região de Parchin ? um complexo militar ao sudeste de Teerã, suspeito de abrigar testes com explosivos de alta potência e, segundo alguns relatórios, atividades ligadas ao enriquecimento de urânio.

O governo iraniano nega qualquer uso nuclear em Parchin, mas continua se recusando a permitir inspeções da agência da ONU responsável por monitorar programas nucleares.

Conselho de Segurança da ONU fez reunião de emergência

A pedido do Irã, o Conselho de Segurança das Nações Unidas realizou uma reunião emergencial neste domingo (22), em Nova York. O encontro foi convocado após os bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas e acontece em meio a uma escalada tensa no Oriente Médio. O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu a situação como um "ponto de inflexão perigoso" e alertou que a região não suporta mais um novo ciclo de destruição. Ele fez um apelo por um cessar-fogo imediato e pelo retorno a negociações sérias e sustentadas.

Durante a sessão, o embaixador do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, acusou os Estados Unidos de agressão e advertiu que, se o Conselho não condenar essa ação, ficará com a "mancha da cumplicidade", assim como ocorre, segundo ele, com o silêncio diante do conflito em Gaza. Iravani disse, ainda, que o Irã tem o direito legítimo de se defender, conforme o direito internacional, e que a resposta será proporcional ? com tempo e escala definidos pelas Forças Armadas iranianas.

Do lado americano, a embaixadora interina Dorothy Shea defendeu os bombardeios como uma ação em legítima defesa, amparada pela Carta da ONU. Segundo ela, os EUA agiram para eliminar uma ameaça crescente à segurança global e proteger tanto seu aliado Israel quanto seus próprios cidadãos. Shea também reforçou a posição do presidente Donald Trump, afirmando que qualquer ataque iraniano ? direto ou indireto ? será respondido com retaliação devastadora.

A Rússia foi uma das vozes mais críticas na reunião. O embaixador Vassily Nebenzia condenou, nos termos mais duros, o que chamou de ações irresponsáveis, perigosas e provocativas dos Estados Unidos. Ele comparou a situação atual ao caso do Iraque em 2003, quando Washington usou supostas provas de armas de destruição em massa como justificativa para a guerra. Para Nebenzia, os EUA estão, mais uma vez, tentando impor a sua versão dos fatos ao mundo, sem aprender com os erros do passado.

Paralelamente à reunião, o chanceler iraniano Abbas Araqchi chegou a Moscou para discutir o cenário com o presidente Vladimir Putin. De acordo com agências iranianas, o objetivo é alinhar posições diante das "ameaças comuns" enfrentadas por Irã e Rússia.

Democratas consideram os bombardeios ao Irã inconstitucionais

O presidente Donald Trump autorizou os ataques contra o Irã sem pedir permissão prévia ao Congresso, o que gerou forte reação entre parlamentares ? especialmente entre os democratas, mas também entre alguns republicanos. Para eles, a ofensiva equivale a uma declaração de guerra e foi conduzida de forma ilegal.

Vários assessores do presidente discordam dessa avaliação. Mas, no domingo, após passar o dia tentando reforçar a mensagem de que os Estados Unidos não buscavam entrar em uma guerra total com Teerã, Trump voltou a agitar os ânimos ao sugerir uma possível mudança de regime no Irã.

Logo após o anúncio dos ataques, a deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, afirmou que a operação foi uma violação grave da Constituição, já que não teve autorização do Congresso. Em uma publicação nas redes sociais, ela classificou a ação como "um motivo absoluto e claro para impeachment".

Pela Constituição dos Estados Unidos, somente o Congresso tem o poder de declarar guerra. No entanto, Trump não fez uma declaração formal de guerra contra o Irã. A Constituição também concede ao presidente autoridade para usar força militar em situações em que seja necessário defender o país de ataques ou proteger interesses nacionais relevantes.

Além do debate sobre os limites do poder presidencial, a oposição também critica o fato de que apenas líderes republicanos das duas casas do Congresso foram avisados com antecedência ? enquanto os democratas ficaram de fora da decisão.

As consequências do conflito já começam a ser sentidas

Os efeitos do conflito entre Estados Unidos, Irã e Israel já começaram a se refletir nos mercados internacionais. Segundo a agência AFP, os preços do petróleo dispararam na manhã desta segunda-feira, após os bombardeios americanos contra instalações nucleares iranianas.

Tanto o Brent quanto o WTI, principais referências do petróleo europeu e americano, registraram alta de mais de 4%, alcançando o nível mais alto desde janeiro.

Em resposta direta aos ataques, o Parlamento do Irã aprovou uma medida que prevê o fechamento do Estreito de Ormuz ? uma das rotas mais estratégicas do mundo para o transporte de petróleo. A decisão final, no entanto, será tomada pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional do país, segundo informou a imprensa estatal iraniana.

Além do impacto econômico, o Departamento de Estado dos EUA emitiu um alerta global para cidadãos americanos, citando o risco de protestos e ações contra interesses dos EUA no exterior. Em comunicado publicado na rede X, o governo americano informou que o conflito entre Irã e Israel já provocou interrupções em rotas aéreas e fechamentos temporários de espaço aéreo em várias partes do Oriente Médio. Por isso, os cidadãos dos EUA foram orientados a redobrar a cautela ao viajar para o exterior.

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