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O que falta explicar sobre supostas mensagens atribuídas a Mauro Cid?

Foto enviada pelo advogado Eduardo Kuntz ao STF, que provaria que Mauro Cid estava por trás do perfil @gabrielar702 - Reprodução
Foto enviada pelo advogado Eduardo Kuntz ao STF, que provaria que Mauro Cid estava por trás do perfil @gabrielar702 Imagem: Reprodução
do UOL

Do UOL, em Brasília

28/06/2025 05h30

O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, que é delator no processo sobre a tentativa de golpe de Estado, é investigado por suspeita de ter usado as redes sociais, apesar de proibição judicial. Ainda há várias perguntas em aberto sobre essa suposta troca de mensagens.

O que aconteceu

Advogado também está na investigação. Luiz Eduardo Kuntz, que defende o ex-assessor Marcelo Câmara, também está sendo investigado no STF (Supremo Tribunal Federal) após entregar supostas trocas de mensagens nas quais Cid teria criticado sua delação. Ele vai depor na PF em São Paulo na terça sobre isso.

Moraes autorizou inquérito. Como Kuntz defende um dos delatados por Cid, o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura da investigação por suspeita de obstrução de Justiça.

Câmara foi preso. No pedido de prisão, Moraes apontou que Câmara estaria tentando atrapalhar a investigação, ao tentar obter informações sigilosas sobre a delação de Cid por meio de seu advogado, além de violar as condicionais para sua liberdade.

Cid, por sua vez, acusa advogados de "cercar sua família". Em depoimento à PF, Cid relatou diversos episódios de abordagens dos advogados à sua esposa, Gabriela, à sua mãe, Agnes, e a uma de suas filhas, de 14 anos. O objetivo era convencê-lo a trocar a equipe de defesa para não levar adiante sua delação premiada.

Agora, há diversas perguntas que ainda faltam ser esclarecidas. Veja a seguir.

Quem criou a conta?

Meta aponta email de Cid. Em resposta encaminhada ao STF nesta semana, a Meta informou que a conta @gabrielar702, que seria uma referência ao nome da esposa de Cid, foi criada utilizando o endereço do Gmail de Mauro Cid em 19 de janeiro de 2024.

Data informada no cadastro é de nascimento de Cid. Também consta nos registros a data de nascimento do militar: 17 de maio de 1979. Ainda segundo a empresa, não foi criada nenhuma outra conta no Instagram por esse email entre maio de 2023 e junho de 2025 (período solicitado por Moraes à Meta).

Abertura de conta exige poucas informações pessoais. A Meta não pede dados como CPF, RG, endereço ou profissão da pessoa para abrir uma conta na rede social.

Não é a primeira vez que o email do tenente-coronel aparece em polêmica. A CPI do 8/1 solicitou dados do email de Cid e identificou que o ex-presidente Jair Bolsonaro usou o endereço eletrônico de seu então auxiliar para abrir uma conta bancária nos EUA. O caso foi revelado pela Folha.

O que tem nas mensagens?

Conversas com críticas à delação. Em tom de "desabafo", o perfil no Instagram atribuído a Cid critica o suposto direcionamento de sua colaboração premiada e a atuação de algumas autoridades envolvidas na investigação, mas não traz o conteúdo da delação premiada em si.

Mauro Cid usou a rede social?

Militar nega ter usado conta. No interrogatório no STF, Cid negou saber da existência da conta, mas disse que "pelo nome" poderia ser de sua esposa. Questionado pela PF, Cid disse que não criou o perfil de Instagram nem o utilizou para conversar com advogados. O delator também negou ter tratado sobre o conteúdo da delação com o advogado de Câmara.

Kuntz juntou foto de Cid ao processo. As conversas que Kuntz entregou ao STF mostram que o usuário da conta compartilhou uma imagem do próprio Cid, para corroborar que era ele que utilizava a conta, também áudios com críticas à condução das investigações.

Mensagens de Kuntz não estão em relatório da Meta. Após cobrança do STF, a Meta apresentou um relatório com as interações da conta. Não aparecem as conversas entregues por Kuntz, mas existe uma mensagem entre ele, o advogado Paulo Cunha Bueno, que representa Bolsonaro, e o perfil atribuído a Cid. O texto da mensagem é uma apresentação do conceito de "investigação defensiva" e um link para assistir a uma aula com um especialista a respeito disso.

Por que troca de mensagens entre Kuntz e Cid não está no relatório da Meta?

Kuntz diz que já apresentou "o que tinha para apresentar". Ao ser questionado sobre as mensagens não aparecerem no relatório da Meta, o advogado disse ao UOL que não iria solicitar nenhuma providência ao STF e que já havia apresentado "o que tinha para apresentar". O advogado afirmou que as conversas podem ter sido apagadas junto com o perfil, que foi deletado no dia do interrogatório de Cid no STF.

Meta não comenta. A empresa não respondeu à reportagem sobre quanto tempo mensagens e perfis deletados do Instagram ficam disponíveis para terem as informações recuperadas.

Quem entrou em contato com quem?

Advogado fala em contato em 2024. Em entrevista à CNN, após apresentar as mensagens ao STF, Kuntz disse que teria sido procurado por Mauro Cid em 2024.

Cid cita contato um ano antes e entrega celular. O delator diz que os contatos de Kuntz e outros advogados com seus familiares começaram ainda em 2023 e que houve uma tentativa de impedir sua colaboração premiada. O delator entregou à PF relatos de sua mãe e sua filha sobre as abordagens, além do celular de sua filha para ser periciado.

Quais os próximos passos?

A PF vai ouvir advogados. Moraes deu cinco dias para a PF ouvir os advogados Paulo Cunha Bueno e Fabio Wajngarten, que faziam defesa de Bolsonaro. Audiência será na próxima terça. Câmara também deve depor.

Polícia Federal vai montar relatório após análise de provas. A PF deve se debruçar sobre as informações apresentadas pela Meta e pelo Google, que enviou ao STF o histórico de logins no email de Mauro Cid. O relatório, a ser montado pela PF, será então enviado à PGR (Procuradoria-Geral da República), que vai decidir se denuncia ou não os envolvidos.

Defesa de Cid ainda pediu para acionar OAB. Cezar Bittencourt solicitou que o caso seja encaminhado para o Conselho de Ética da OAB ao final das investigações para que sejam adotadas as providências cabíveis aos advogados.

OAB defende exercício da função de advogado. A Ordem dos Advogados do Brasil disse que atua para defender a prerrogativa dos envolvidos. Em nota, a seccional paulista da OAB disse que foi acionada por Kuntz para defender suas prerrogativas de advogado. Ainda informou que a análise de possíveis irregularidades na conduta dos advogados depende de representação ao Tribunal de Ética da OAB, o que ainda não ocorreu.


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