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Como Jordânia e Arábia Saudita intervêm a favor de Israel na guerra

23/06/2025 14h03

Como Jordânia e Arábia Saudita intervêm a favor de Israel na guerra - Ambos os países árabes ajudaram no abate de mísseis ou drones iranianos que passavam pelos seus espaços aéreos, apesar de terem se posicionado contra os ataques de Israel ao Irã.A Arábia Saudita e a Jordânia estão entre os países árabes signatários de um comunicado, divulgado em meados de junho, que expressa "rejeição e condenação categóricas aos recentes ataques de Israel à República Islâmica do Irã", iniciados em 13 de junho, e a necessidade de interromper as hostilidades israelenses contra o Irã: "Essa perigosa escalada ameaça ter graves consequências para a paz e a estabilidade de toda a região."

Porém, a oposição declarada aos ataques de Israel ao Irã não impediu esses dois países de intervirem, pelo menos indiretamente, no conflito. A Jordânia confirmou ter abatido mísseis que voavam do Irã em direção a Israel. Os militares jordanianos afirmaram que mísseis e drones que passam pelo país podem cair na Jordânia, inclusive em áreas povoadas, causando mortes.

É normal que mísseis ou outros objetos não autorizados que cruzem o espaço aéreo de um país sejam considerados violações do direito nacional ou internacional. Os sauditas não emitiram qualquer declaração, mas especialistas dão como certo que tenham permitido que Israel derrubasse mísseis em seu espaço aéreo e que também tenham cooperado na vigilância.

Situação delicada para a Jordânia

A adoção de políticas como essa pode alimentar tensões internas em ambos os países, pois em suas populações existe uma rejeição histórica em relação a Israel, baseada em guerras e conflitos passados. Isso vale especialmente para a Jordânia, onde um em cada cinco habitantes, incluindo a rainha do país, tem ascendência palestina.

Essa situação torna difícil para o governo da Jordânia justificar o abate de mísseis iranianos que tinham Israel como alvo, o que explica o uso da defesa própria como justificativa. "Esta mensagem de que 'estamos apenas nos defendendo' está sendo repetida em todos os canais", observa o chefe do escritório da Fundação Konrad Adenauer em Amã, Edmund Ratka.

Ele afirma que isso ocorre também devido ao atual cenário político da Jordânia. Em abril, o governo jordaniano proibiu o maior grupo da oposição, a Irmandade Muçulmana, acusando-o de conexões com um suposto complô para desestabilizar o país.

"A proibição parece cuidadosamente calibrada e visa conter o crescente apoio popular a esse grupo, num momento em que o reino atravessa um cenário regional difícil", bem como "minar crescente apelo do grupo entre uma população indignada com a guerra de Israel em Gaza", afirma Neil Quilliam, especialista em Oriente Médio do think tank britânico Chatham House.

O governo da Jordânia não quer ser visto como defensor de Israel, confirma Ratka, "porque o povo jordaniano percebe Israel como o agressor". Mas essa é também a percepção em relação ao Irã, dizem pesquisas. "O Irã é visto como um país que interfere repetidamente nos assuntos árabes com a intenção de desestabilizar", explica Quilliam.

A Jordânia tem ainda outros motivos para abater mísseis iranianos, diz o analista Stefan Lukas, da consultoria Middle East Minds. Os dois países têm um acordo de cooperação em defesa, firmado em 2021, permitindo que soldados, veículos e aeronaves americanos entrem e se movimentem livremente pelo território jordaniano. "A Jordânia é muito dependente dos EUA e, em certa medida, também de Israel, tanto financeiramente quanto em termos de política de segurança."

O argumento da autodefesa é um tanto difícil para o governo jordaniano, diz Ratka, pois, se ele estivesse tão preocupado em proteger o espaço aéreo doméstico, também teria que protestar contra a presença de forças israelenses sobrevoando o país.

Porém Israel não violou o espaço aéreo jordaniano com seus ataques ao Irã. "Assim, a liderança jordaniana pode, com alguma razão, alegar que combate qualquer violação do espaço aéreo. Mas, na verdade, combate só a do Irã."

Arábia Saudita na corda bamba

A Arábia Saudita também se encontra numa situação delicada, pois assinou a mesma declaração que outros 20 países árabes e, já antes disso, havia se referido ao Irã como uma "nação irmã", o que foi considerado notável por analistas, pois geralmente esse termo é reservado a países de maioria árabe.

Mas essa é só a retórica oficial, pois Riad estaria seguindo um caminho completamente diferente, diz Lukas: "Extraoficialmente, a Arábia Saudita está participando das ações contra o Irã."

Isso se baseia na cooperação em segurança entre sauditas e israelenses, em especial na área de reconhecimento militar. "A Arábia Saudita fornece dados de radar e tolera o acesso [ao seu espaço aéreo] de aeronaves israelenses, especialmente na parte norte do país, por onde os mísseis iranianos costumam passar. Observamos que a Arábia Saudita é muito complacente com Israel", afirma Lukas.

Além disso, o país conta com a proteção militar dos EUA há décadas, em sua rivalidade regional com o Irã. Embora os dois rivais regionais tenham se reconciliado em 2023, a relação entre eles ainda é delicada, e a Arábia Saudita provavelmente recorreria à proteção americana, se necessário.

Autor: Kersten Knipp

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