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Consórcios têm crescimento recorde no 1° quadrimestre do ano; vale a pena?

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto
do UOL

Emilio Sant'Anna

Colaboração para o UOL

23/06/2025 05h30

Juros altos e crescentes são sinônimo de crédito restrito. É em meio a esse cenário - com a taxa Selic que começou o ano em 12,5% e chegou em junho a 15% - que o sistema de consórcios teve um crescimento recorde no primeiro quadrimestre deste ano. De acordo com dados da ABAC (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), o setor registrou 1,61 milhão de novas adesões entre janeiro e abril, um aumento de 19,3% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram comercializadas 1,35 milhão de cotas.

O que aconteceu

Sem cobrança de juros - mas, sim, de uma taxa de administração - e com diferentes valores de parcelas. Os consórcios têm se destacado como uma solução viável para quem deseja adquirir bens como veículos e imóveis. "Para muitas pessoas, o consórcio vem se transformando na principal forma de adquirir bens ou contratar serviços, em especial para aqueles que, por conhecerem mais a essência da educação financeira, planejam suas finanças pessoais", afirma Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC.

Setor tem crescimento contínuo há quase cinco anos. Em abril, atingiu um total de 11,59 milhões de consorciados ativos — 10,1% a mais do que no mesmo mês de 2024. Comparando com janeiro de 2022, o salto é de 41,2%.

A alta também se refletiu no volume de negócios. Nos quatro primeiros meses de 2025, o total chegou a R$ 141,19 bilhões — um avanço de 29,9% em relação ao mesmo período de 2024. O tíquete médio das cotas subiu 13,2% em abril, passando de R$ 83,63 para R$ 94,63.

Crescimento em comparação a 2024. Além do número crescente de adesões, o setor contemplou 607,81 mil consorciados nos primeiros quatro meses do ano, com créditos liberados no valor de R$ 39,82 bilhões, um crescimento de 19,6% em relação a 2024. Esse volume é injetado diretamente na cadeia produtiva de setores como imóveis, automóveis, eletroeletrônicos e serviços, contribuindo para movimentar a economia real, afirma a Abac.

As vendas recordes de cotas refletem o comportamento do consumidor que, sem necessidade imediata do bem, considera o compromisso de pagamento de parcelas mensais dentro de sua capacidade orçamentária.
Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da ABAC

Falta de crédito impulsionou o surgimento dos consórcios. Os consórcios surgiram no Brasil na década de 1960, em um contexto marcado pela instalação da indústria automobilística no País e pela escassez de linhas de crédito para a compra de veículos. Essa forma de autofinanciamento ofereceu uma alternativa para os consumidores da época. Com o passar dos anos, os consórcios se expandiram para outros setores.

Muito além dos carros

Eletroeletrônicos e imóveis se destacam. Os destaques do crescimento recorde de adesões foram os setores de eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis novos e de imóveis que tiveram altas de 119,5% e 41,0%, respectivamente, de acordo com levantamento da entidade. Do 1,61 milhão de adesões acumuladas nos quatro primeiros meses do ano, destacam-se em números absolutos:

  • 631,9 mil veículos leves
  • 470,76 mil motocicletas
  • 375,58 mil imóveis
  • 62,53 mil veículos pesados,
  • 47,44 mil eletroeletrônicos e outros bens móveis duráveis
  • 18,01 mil serviços.

As previsões da Abac para este ano são positivas. Mesmo com o endividamento familiar no Brasil, acima de 75% — 77,6%, em abril, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio) — esse índice é menor do que o do mesmo mês de 2024. O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve bom desempenho - uma alta real de 1,2% no trimestre até março na comparação com o trimestre até dezembro, R$ 39 a mais, para um recorde de R$ 3.410, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em relação ao trimestre encerrado em março de 2024, a renda média real de todos os trabalhadores ocupados subiu 4,0%, R$ 131 a mais, segundo a Pnad Contínua.

Imóveis são a principal intenção de compra de um consórcio. Pesquisa realizada pela Kantar, a pedido da Abac, no último quadrimestre de 2024, mostrou que 69% dos entrevistados pretendiam adquirir uma cota de consórcio em 2025. Os imóveis se destacaram como a principal intenção de compra, seguidos por veículos, serviços e bens duráveis.

Vale a pena investir em um consórcio?

Simulação ajuda a calcular parcelas. Na hora de aderir a um consórcio, no entanto, é preciso atentar para variáveis como o valor e o número de parcelas para calcular se elas cabem, de fato, no orçamento. A Abac disponibiliza um site para tirar todas as dúvidas sobre os consórcios.

Fique atento ao que cabe no seu bolso. Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV (Fundação Getúlio Vargas) explica quais são os cuidados ao aderir a um consórcio e quais as vantagens:

Planejamento financeiro é a base para tudo. Tenha em mente que há reajustes, já previstos em contrato, e que talvez eles não acompanhem os reajustes dos seus ganhos.

O consórcio é vantajoso, quando o interessado tem tempo para esperar. Você depende de um sorteio para poder dispor do bem. No financiamento direto, embora tenha um custo mais elevado, você tem a possibilidade de dispor do bem imediatamente.

O mais vantajoso seria comprar à vista, depois a compra através do consórcio e, logicamente, o financiamento com as taxas de juros que temos hoje se torna a terceira e última opção.
Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV (Fundação Getúlio Vargas)

A escolha da administradora do consórcio é fundamental. Pesquise para ter a segurança de que a empresa vai efetivamente conseguir a cumprir todos os compromissos que ela está assumindo ao formar um grupo de consorciados.

Não existe um perfil específico para quem faz um consórcio. As pessoas normalmente fazem o consórcio pela facilidade de pagamento, embora haja um custo adicional.

Fique atento a aspectos como o valor da parcela, taxa de administração e prazo do contrato. É preciso avaliar se as parcelas cabem no seu orçamento, a possibilidade de contemplação antecipada, o quanto a empresa cobra pela administração e se você está disposto a pagar essas parcelas pelo tempo estipulado.

Quando você estiver decidindo pela sua adesão a um consórcio, você deve levar em consideração a sua situação financeira atual e a perspectiva que você tem no futuro, para que você não assuma contratualmente uma dívida que depois você tenha dificuldade de honrar.
Ricardo Teixeira, coordenador do MBA de Gestão Financeira da FGV

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